A escápula alada é uma complicação que pode ocorrer devido à exposição do nervo torácico longo durante a linfonodectomia axilar em pacientes com câncer de mama.
A maioria das lesões do nervo torácico longo, é parcial e transitória (neuropraxia), que progressivamente se recupera num período de um mês a dois anos, mas normalmente se restabelece em oito meses. Entretanto, a persistência da escápula alada indica uma lesão completa e irreversível do nervo (neurotmese).
O nervo torácico longo é puramente motor e inerva especificamente o músculo serrátil anterior, que é responsável por manter a escápula fixa na parede torácica, quando se executa o movimento de empurrar e rodar a escápula superiormente, permitindo assim a elevação do membro superior acima de 90º.A movimentação do ombro é realizada por componentes escapulares e glenoumerais, em uma relação de 1:2, respectivamente, de rotação de escápula e movimento de úmero. Essa associação de movimento é denominada ritmo escápulo-umeral. Durante a elevação do braço acima da cabeça, a escápula roda superiormente ao mesmo tempo em que desliza para frente sobre a caixa torácica. Quando ocorre a fraqueza ou paralisia do músculo serrátil anterior em decorrência da lesão do nervo torácico longo, o ritmo escápulo-umeral fica prejudicado, levando a instabilidade da cintura escapular, com proeminência da borda medial da escápula e rotação do ângulo inferior na linha média caracterizando o quadro de escápula alada.Nesse caso, também pode ocorrer limitação da amplitude dos movimentos de flexão e abdução do ombro.
Os pacientes com escápula alada podem queixar-se de dor na região escapular, desconforto, fraqueza muscular, dificuldade para elevar o membro superior acima da altura do ombro.
A avaliação da escápula alada pode ser realizada através da manobra de Hoppenfield, em que se pede ao paciente que fique em pé, flexione o ombro à 90º, coloque as mãos espalmadas na parede (ombros próximos às mãos), estenda os cotovelos, empurrando as mãos contra a parede. Durante a execução desse teste, a metade medial da escápula fica evidente na presença da escápula alada, quando comparado com o lado não afetado.
Na literatura há uma divergência significativa da frequência da escápula alada pós-linfonodectomia axilar, variando entre 0,6% e 74,7%.
A fisioterapia é o tratamento preconizado para escápula alada objetivando o reequilíbrio muscular e reestabelecimento do ritmo escápulo-umeral.
É importante que seja realizada uma avaliação pelo fisioterapeuta antes do procedimento cirúrgico (linfonodectomia axilar), a fim de verificar a presença ou não de escápula alada, já que algumas pessoas possuem essa disfunção independente do procedimento cirúrgico. Deve-se também estar atento a amplitude de movimento do ombro, a fim de detectar a diminuição da mesma no pós-operatório e assim traçar as condutas para recuperação precoce do paciente.
Os recursos fisioterapêuticos utilizados para pacientes com escápula alada variam desde crioterapia e TENS para alívio da dor, assim como, exercícios que objetivem a recuperação funcional do ombro, enfatizando o fortalecimento do músculo serrátil anterior.
Os exercícios devem ser realizados de forma progressiva e de modo que não acarretem dor no paciente, podendo-se iniciar com o paciente na posição deitada, realizando exercícios ativo-assistidos e progredindo até à movimentação livre com resistência.
Alguns exercícios como, de pressionar o membro superior contra a parede e socos, são muito indicados para o fortalecimento do músculo serrátil anterior.
O uso de bandagensneurofuncionais, como o kinesiotaping, também são indicadas para ativar músculos comprometidos e permitir o posicionamento adequado da escápula, respeitando sempre a forma adequada de colocação da bandagem e objetivo da mesma.
Alongamento de músculos que poderão estar encurtados, como peitorais, rombóidese escalenosdeverão ser realizados.
As pacientes que não apresentarem regressão do quadro de escápula alada, devem evitar realizar atividades acima da cabeça a fim de prevenir impacto no ombro e desencadear tendinopatias.
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Autor: Kelly Rosane Inocencio
Crefito 2/46640-F
Fisioterapeuta do Serviço de Mastologia Oncológica e Alterações venolinfáticas- Prefeitura do Rio de Janeiro/CMRED
Preceptora de Estágio acadêmico-bolsista em Fisioterapia no Câncer de mama-SMS/RJ
Aperfeiçoamento em Mastologia eUroginecologia Oncológica-INCA/MS
Formação em Drenagem Linfática Manual Método Vodder/Argentina
Formação em Terapia Compressiva/Argentina
Membro da Câmara Técnica de Fisioterapia em Oncologia-Crefito 2
Sócio da Associação Brasileira de Fisioterapia em Oncologia/ABFO
Especialista em Fisioterapia neurofuncional-UNESA