O procedimento cirúrgico para retirada de neoplasias mamárias é o principal tratamento para o câncer de mama, podendo estar associado a outros tratamentos complementares antes (neoadjuvantes) ou após (adjuvantes) a cirurgia, como radioterapia, quimioterapia e/ou hormonioterapia.
Muitas vezes se faz necessário a abordagem cirúrgica axilar, chamada de esvaziamento axilar, para estadiamento e controle da doença, no esvaziamento axilar são retirados parcialmente ou totalmente os linfonodos axilares, devido ao alto risco de metástase por via linfática.
Com os avanços técnico-científicos, as cirurgias oncológicas tendem a preservar o maior número de estruturas possíveis, porém mesmo com todas as campanhas preventivas para o diagnóstico precoce da doença, no Brasil o câncer de mama continua tendo seu diagnóstico realizado tardiamente, o que leva a um pior prognóstico e a necessidade de uma intervenção cirúrgica mais agressiva.
Muitas complicações podem estar relacionadas à cirurgia para o tratamento do câncer de mama, entre elas, parestesia, dor, limitação do movimento, linfedema (inchaço), deiscência, seroma, necrose tecidual, aderência cicatricial e diminuição de força no membro superior ipsilateral a cirurgia.
Diante desses riscos, a fisioterapia oncofuncional vem desempenhando um papel primordial na prevenção de complicações relacionadas ao câncer de mama e na reabilitação de pacientes que passaram por cirurgia para seu tratamento.
A busca da funcionalidade, o retorno as atividades laborias ou de vida diária e a melhora da qualidade de vida, são alguns dos objetivos fisioterapêuticos que podem começar a serem alcançados desde o primeiro dia de cirurgia (PO1) ou quando possível no pré-operatório.
No PO1 é importante que o fisioterapeuta faça a primeira visita para orientar suas pacientes quais os movimentos que já podem ser realizados, o receio de movimentar o membro, a dor e o paradigma que pacientes recém-operados devem manter repouso absoluto, podem levar a uma diminuição da amplitude de movimento, perda de força muscular e aderência cicatricial. As orientações realizadas precocemente diminuem substancialmente o risco dessas complicações.
Exercícios são realizados antes mesmo da retirada dos pontos, alguns serviços orientam que sejam realizados na amplitude máxima de 90° abdução e flexão do ombro, porém alguns estudos já sugerem que movimentos realizados acima dessa amplitude não estão associados ao maior risco de deiscência (abertura dos pontos), o que deve ser considerado nessa etapa é o limiar de dor do paciente e que nenhum movimento seja realizado de forma brusca. Exercícios de punho e cotovelo são livres e movimentos dessas articulações melhoram o retorno venoso, auxiliando na diminuição do edema pós-operatório.
Após a retirada dos pontos, a cinesioterapia com exercícios de alongamento e fortalecimento muscular, permitem que a funcionalidade das pacientes seja restabelecida, inclusive para continuidade do tratamento oncológico, devido a necessidade de uma boa amplitude do braço para manter o adequado posicionamento durante a radioterapia.
O fisioterapeuta deve estar apto para identificar as possíveis alterações posturais relacionadas a retirada da mama, outras complicações como a síndrome do cordão fibroso ou escapula alada e orientar os paciente na prevenção de complicações tardias, como o linfedema, uma condição que deve ser identificada e tratada rapidamente.
Por fim, mesmo relacionando todos esses aspectos biológicos, devemos lembrar que o paciente com câncer é um ser único, complexo e que necessita de uma assistência em que o respeito e a humanização estejam acima de qualquer técnica, o bom fisioterapeuta oncológico e aquele que alcança seus objetivos não de maneira passiva, mas dentro de uma relação amistosa com o seu paciente.
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