Mindfullness e Câncer
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Espiritualidade no contexto dos Cuidados Paliativos

Ao tratarmos do tema espiritualidade e sua influência na saúde, faz-se necessário destacar que a sua definição está relacionada aos diversos contextos, sejam eles no âmbito da pesquisa ou na abordagem clínica. Geralmente, o termo espiritualidade relaciona-se com um aspecto dinâmico, intrínseco daquilo que dá sentido na vida, com propósito último de cada indivíduo, que propicia uma relação mais íntima e profunda consigo mesmo, com o outro, com a natureza ou com o Sagrado, o transcendente, podendo ou não estar relacionada com práticas ou crenças religiosas.

O domínio espiritualidade ainda é pouco explorado no contexto da terminalidade da vida se comparado ao domínio biopsicossocial e, infelizmente, ainda há uma pequena disponibilidade de bolsas de pesquisa na área.

A relevância na abordagem das necessidades espirituais dos pacientes é preconizada pela Organização Mundial da Saúde ao definir o cuidado paliativo, que é um amodalidade de tratamento, em que destaca a necessidade da identificação precoce e da prevenção de problemas físicos, emocionais, sociais e espirituais, de pacientes e de seus familiares diante de doenças ameaçadoras ou condições crônicas que limitam a vida e que provocam sofrimento em suas múltiplas dimensões.

O diagnóstico de uma doença que ameaça a vida pode provocar grande sofrimento espiritual/existencial, angústia ou desespero, crescimento ou transformação pessoal. A espiritualidade é um fator-chave que influencia em como as pessoas lidam com a doença e com o sofrimento. Ela é um dos oito domínios específicos de qualidade dentro dos cuidados paliativos.

Ao abordamos o tema espiritualidade, é importante diferenciá-la de religião e de religiosidade:

  1. Religião é o sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos designados para facilitar o acesso ao sagrado, ao transcendente (Deus, força maior, verdade suprema).
  1. Religiosidade é o quanto um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião.

Ela pode ser organizacional (participação na igreja ou templo religioso) ou não-organizacional (rezar, ler livros, assistir programas religiosos na televisão).

Outra definição importante é de cuidado espiritual. Este pode ser definido como intervenções (individuais ou comunitárias) que facilitam a capacidade de expressar a integração do corpo, mente e espírito para alcançar a integridade, a saúde e um senso de conexão consigo mesmo, com os outros ou com Força Superior.

Existem alguns fatores que justificam a importância da abordagem dos aspectos espirituais ou religiosos: primeiro, espiritualidade é algo inerente a todo ser humano; segundo, a espiritualidade é inclusiva dos não-crentes (todos têm uma vida interior que pode ser descrita na compreensão geral da espiritualidade); terceiro, boa parte dos pacientes desejam que seus médicos e demais profissionais de saúde abordem os problemas espirituais. Muitos pacientes não religiosos, inclusive, acreditam que esses profissionais devem perguntar educadamente sobre as necessidades espirituais.

Quanto a avaliação dos aspectos espirituais ou religiosos dos pacientes, existem vários instrumentos validados que auxiliam na realização de uma história ou anamnese espiritual. O objetivo da avaliação espiritual é diagnosticar o sofrimento espiritual, bem como avaliar quais recursos espirituais servem de apoio aos pacientes para lidarem com as limitações ou agravos de saúde, já que este pode influenciar no processo de tomada de decisões médicas, nos cuidados com a própria saúde e na qualidade de vida.

Dr Luis Gustavo Langoni Mariotti
Geriatra com área de atução em Medicina Paliativa
Médico assistente do Serviço de Cuidados Paliativos HCFMB/UNESP
Colaborador do Instituto Paliar
Coordenador do Depto de Cuidados Paliativos da Associação Médico-Espírita do Brasil.

Referências bibliográficas:

  1. Koenig HG, King DE, Carson VB. Handbook of Religion and Health. 2nd ed. New York, NY: Oxford University Press; 2012
  1. Puchalski CM, Vitillo R, Hull SK, Reller N. Improving the spiritual dimension of whole person care: reaching national and international consensus. J Palliat Med 2014;17:642-656.
  1. Norris L, Walseman K, Puchalski CM. Communicating About Spiritual Issues with Cancer Patients. In: New Challenges in Communication with Cancer Patients, Surbone A, et al (Eds), Springer, New York 2012.
  1. World Health Organization (WHO). Worldwide Palliative Care Alliance. Global Atlas of Palliative Care at the End of Life. Disponível em:

http://www.thewhpca.org/resources/global-atlas-on-end-of-life-care. Acesso em

31 de março de 2018.

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